segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Trilhos e Letras


Em breve lembraremos dos que lutaram pela nossa memória e pela ferrovia como heróis, até lá teremos que conviver com o trunfo dos nossos grandes pequenos homens. Sempre foi assim e o Eduardo David nunca teve medo de trilhar o caminho mais difícil. Lançamento do livro "A Mula do Ouro", 12 de Dezembro, Estação da Leopoldina, Rio, 10:00hs.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Gestores da Mobilidade Urbana, olha a cobra!





















"Bin ich auch eine klapperschlange?" Essa pergunta está escrita no VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) de Zurich, denominados de "Cobra" e projeto do grande estúdio de design italiano Pininfarina. Zurich é a cidade campeã mundial de qualidade de vida e o VLT é o veículo da mobilidade sustentável utilizado em nove das dez melhores cidades em qualidade de vida. No entanto, o VLT nada mais é do que o bonde moderno, operando numa faixa de capacidade de passageiros abaixo do metrô, acima do monotrilho e praticamente igual ao TRO – Transporte Rápido por Ônibus, um sistema de ônibus moderninho e cheio de bossa como o de Curitiba e Santiago.

Atualmente, devido a capacidade de ultrapassagem dos ônibus nos pontos de parada se diz que o TRO tem capacidade maior o que, aliado a um preço de implantação menor, parece uma combinação vencedora. Para cidades acostumadas com congestionamento o TRO é um avanço. E só. Barulho de motor, barulho de lona de freio vencida, cheiro de fuligem, de pneu queimado, paradas e curvas bruscas... tudo continua numa dose menor. Apesar de extremamente caro, o VLT retorna cada centavo investido pela cidade tornando-as mais prazerosas. Na América Latina, somente agora Brasília fez um contrato com a empresa francesa Alstom e com a construtora brasileira Mendes Junior visando a copa do mundo de 2014. No entanto, a grande novidade para as cidades de todo o mundo é o VLM (Veículo Leve Magnético), uma novidade brasileira projetada pela COPPE, o centro de pesquisas de classe mundial da UFRJ, que pela primeira vez utiliza a tecnologia de supercondutores para transformar o uso da levitação magnética em um eficiente meio de transporte urbano. É o Maglev-Cobra, que já tem a parceria do BNDES e terá uma pista experimental funcionando no ano que vem com uma linha no campus do Fundão.


Hoje, o transporte urbano é o grande responsável pela emissão de poluentes, o que leva a crer que os setores ambientais é que devem ser a vanguarda na luta pela mudança da matriz de transporte. Como a tecnologia é nacional, ele terá um custo de implantação significativamente menor que, aliado a um custo operacional menor, promete revolucionar o transporte urbano no próximo século. Antes, alemães e japoneses desenvolveram a tecnologia eletromagnética e eletodinâmica para transporte a altas velocidades, como o Transrapid implantado pelos alemães na cidade chinesa de Xangai e que circula a 450 km/h. A velocidade impressiona, mas a grande vantagem do VLM é mesmo o baixo impacto ambiental.




O Rio deve estrear o projeto e inaugurar uma linha comercial até 2011 entre o Aeroporto Santos Dumont e o Aeroporto do Galeão, mas sofre a concorrência de Manaus e outras cidades. Mas é Belo Horizonte quem tem tudo para sair na frente com uma linha de 4,5 km entre a Estação Vilarinho do Metrô e o novo Centro Administrativo de Minas Gerais, belíssimo projeto de Oscar Niemeyer e que a cidade ficou devendo um transporte a altura.

É hora das cidades brasileiras acordarem e participarem do projeto certo se querem participar da rede de cidades que oferecem qualidade de vida com dinamismo econômico. E se não querem levar uma picada no pé investindo no transporte errado. Afinal, a pergunta em alemão no VLT de Zurich brinca se além de Cobra ele não seria uma Cascavel.


quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Cuba no Rio – Lembrando os jogos Pan-americanos de 2007


A cidade do Rio fechou os jogos Pan-americanos com brilho. Apesar do atraso na conclusão dos espaços onde foram disputados os jogos tudo ocorreu dentro do esperado. Por 21 dias esquecemos a violência, o sub-emprego, o transporte ruim (clandestino ou não), entre outras mazelas. A cidade voltou a ser maravilhosa.

A equipe brasileira brilhou e conseguiu o melhor resultado desde o início dos jogos conquistando 54 medalhas. Desde os jogos de Caracas em 1983 estamos acostumados a ocupar o quarto lugar, exceção de Mar del Plata quando ficamos em sexto. Aproximamos também de Cuba que ficou em segunda com “apenas” 59 medalhas de ouro, o pior resultado desde México em 1965.

A queda de Cuba, na verdade, reflete a queda dos dois tradicionais rivais. Cuba e EUA vem perdendo espaço para os demais países americanos: de Habana para cá Cuba vem mantendo na casa das 60% das medalhas dos EUA. Se fossemos computar as duas medalhas certas perdidas para o Brasil em função dos deserdados do boxe a diferença para o Brasil aumentaria para 8 medalhas, mudando pouco o medalheiro.

O que não podemos deixar de reconhecer são os dados relativos, quando analizamos o total de medalhas em relação a população. Dos países com mais de 10 medalhas México foi o pior com menos de 2 medalhas para cada grupo de 10milhões de habitantes; Argentina, Brasil, Colombia e EUA aparecem com uma média de 3 medalhas; Venezuela com cerca de 5; Canadá com 12 e Cuba com 50!!

Esses três países merecem ser loados com destaque. Cuba e Canadá são dois países que centram seus focos de políticas públicas no ser humano e não na economia. Essa diferença fez com que o documentário “Tiros em Columbine” procurasse no Canadá razões para a diferença de violência entre Canadá e EUA. A Venezuela é o país mais novo a ter políticas sociais inclusivas, mas a diferença já se faz notar: o Brasil ultrapassou a Venezuela no ranking dos paises mais violentos.

Hoje, a pesar do forte bloqueio dos EUA, mas com a união dos países corajosos da América, como o Canadá e a Venezuela que estão comprando briga contra esse bloqueio criminoso, Cuba cada vez mais se insere na economia internacional. E olha que na época ninguém imaginava que apenas dois anos após os EUA teriam um lider como Obama.

No Rio, Cuba levantou poeira.

Olhar Bip-Bip

maio de 2008

É apenas um bairro,
Copacabana,
mas não é para amadores.
Das janelas dos ônibus, príncipes e rainhas observam o seu reino.
Nas ruas, covardes e guerreiros se encontram no sinal fechado
uns com seus carros blindados e outros com seus escudos de velho cobertor
Nas noites, nos bares,
encontros aterrorizam, mas também constroem pontes.

É apenas um bar,
Bip-Bip,
mas naquelas poucas horas
com velhos amigos comunistas e
alguns poucos revolucionários cubanos
embalados por chorinhos e charutos
o mundo parecia ter algum sentido.

É apenas um bar,
Bip-Bip,
mas quando Noemii (princesa?) entra
o bar silencia
E enquanto me fita
(olhos negros, olhos negros)
Paris e Havana silenciosamente
se digladiam e se comungam

É apenas um olhar,
mas enquanto tudo em volta paralisa
sua íris exibe hordas em combate
e filhos que nunca tive
Reflexos do meu cérebro em chamas

É apenas um bar,
Bip-Bip,
mas naquele instante
entre medo e esperança
a vida pareceu ter algum sentido

domingo, 20 de setembro de 2009

“Cidade dos Bondes” é premiada pela CBTU

Há cerca de 6 meses venho tentando abarcar as novidades dos últimos 10 anos do estado-da-arte e que ainda não foram apropriadas na prática nos estudos de transporte de Belo Horizonte visando sensibilizar o tomador de decisão na priorização de meios de transporte mais eficientes para o período 2009-2012.

Esse trabalho gerou uma monografia denominada “Cidade dos Bondes – uma nova mobilidade para uma nova cidade” e que acaba de ser premiada com o 1º lugar do concurso de monografias da CBTU com o tema “Transporte e desenvolvimento urbano”.

O esforço parecia inglório já que esbarrava em três problemas: conhecimentos já apropriados pelos técnicos, mas que não sensibilizava o faro político; corpo técnico refratário a novas ferramentas e, por último, buscar solução para problemas não formatados no escopo estrito do problema de transporte, mostrando que o enfoque multidisciplinar ainda está longe de ser realidade. Para superar todos eles, foi fundamental as opiniões emitidas pelos colegas da lista do GTDU nos últimos dois anos, com destaque para o Raul Lisboa, Nei Simas, Joaquim Aragão, Peter Alouche entre outros.

Novas ferramentas como Cidades Policêntricas, Transporte de alta-capacidade orientando o desenvolvimento e novas tecnologias como o Maglev se uniram a antigas ferramentas como transporte adequado à densidade do solo para alcançar metas externas ao setor transporte. É o que propõe a ONU com as Metas do Milênio e é o que proponho acrescentando ao problema de desenvolvimento econômico e de qualidade de vida a questão específica da segurança pública, expondo a especulação imobiliária como um agente no esquecimento de regiões. Nesse ponto foi fundamental o apoio da Dra. Miriam Gontijo e a categoria de análise de Espaço e Memória.

Como pano de fundo, a mudança das cidades modernas para pós-modernas deixando o legado da era do consumidor onde cada um pensa em otimizar a sua própria função de utilidade o que gerou um planejamento pulverizado e a “tragédia dos comuns” parece ser a realidade. Aos problemas oriundos das Ciências Políticas gostaria de agradecer os ensinamentos do Pedro Porfírio, Homero Jr. e do Maurício Cavalcanti, numa seara onde estado da arte e estado da prática caminham juntos. Não vou esquecer o melhor Jornal do Brasil.

E, por fim, um agradecimento mais do que especial aos amigos que foram obrigados a conviver comigo na Gerência do Planejamento da Mobilidade na BHTRANS, na Assessoria Parlamentar da Câmara de Vereadores de BH e, principalmente, na ONG transporte e ecologia em movimento – ONGtrem. A todos vocês eu dedico esse trabalho.

sábado, 22 de agosto de 2009

Nossas estradas se transformaram em palco de guerra: só estamos melhores do que a República Dominicana e El Salvador




Fundação da ONGtrem em 2004
Perfil dos Acidentes nas Rodovias Mineiras

O Brasil é um dos maiores países rodoviários do mundo. São 50 milhões de automóveis, estamos chegando a marca de 10.000 carros vendidos por dia e em cidades como Belo Horizonte e São Paulo são emplacados mais veículos do que emitidas certidões de nascimento. Também somos o maior mercado de ônibus do mundo e temos o maior fabricante de ônibus do mundo, a Marcopolo. Temos muito do que nos orgulhar.

É claro que isso tem um custo. O excesso de rodoviarismo, transformou o Brasil num país onde praticamente não existem outros modos concorrentes. A ausência de ferrovias tira competitividade do Brasil. Os acidentes tiram vidas. Se formos fazer um perfil da vítima dos acidentes de tráfego teríamos um jovem, ou uma jovem, de 29 anos de idade média, morto em um acidente numa rodovia federal, possivelmente na BR-381, em dia de chuva. A vítima tem curso superior completo, cursa pós-graduação, tem olhos negros que teimam em não se fechar, tem um sorriso generoso, se chama Mariele e muita vontade de concluir o mestrado no departamento de fisiologia da UFMG.

Apesar da dificuldade inicial com estatística, ela termina a disciplina com conceito A, fazendo crer que todo o esforço tenha valido a pena. No entanto, a defesa do mestrado ela não vai poder fazer. Ela não bebia, ela não dirigia, mas quando o Sandero que o amigo habituado com estradas dirigia se esborrachou numa ambulância parada no meio de mais uma rodovia privatizada em Santo Antônio do Amparo ela subverteu as tendências de imprudência e imperícia que os relatórios oficiais teimam em apontar como principal culpado.

Não para a mãe, irmãs, amigos, fãs, ex-namorados, orientadores, primos, tios, pais adotivos, agregados, colegas, vizinhos, paqueras, amigos virtuais e todos que a moderna rede permite e incentiva criar. Para esses, Mariele continua por perto e bem viva. Os olhos negros continuam abertos e a cobrar.

Mas qual é a face dos responsáveis?? Quem é o responsável pela falta de treinamento da equipe da ambulância? Nas centenas de acidentes diários com caminhoneiros que estavam exaustos, quem é o responsável pelo “rebite” dos motoristas?? E pelos motoristas bêbados, e pelo excesso de velocidade?? Qual é a cara da morte que transformou as nossas estradas em palco de guerra, em todo o mundo só estamos melhores do que a República Dominicana e El Salvador (1). Não é só a Dilma que fez uma licitação com preços mínimos e não assegurou um patamar mínimo de qualidade dos serviços prestados, não é nenhum burocrata, ou tecnocrata. É a sucessão de políticos que não estão a altura do cargo e que erroneamente investiram na rodovia como modo único de transporte.

Não é só pela Mariele Oliveira de Andrade. Pelo bem do nosso futuro, das próximas gerações, que não ocorra o mesmo com Fernandas, Rodrigos, Brunos, Marcelos...vamos a justiça. Queremos ver sua cara.

(1) http://www.worldmapper.org/posters/worldmapper_map243_ver5.pdf

sábado, 6 de junho de 2009

Rumo a Estação Futuro

Que bom viver hoje. Tempo de liberdade e de fartura, para uns. De miséria para outros. A liberdade de ir a luta e a abundância de temas necessários nos tornam demasiadamente para-li-sa-dos. A arrogância de uns acabou por matar o rebento de cidades feitas com amor, com prazer, com alegria, pelo menos na nossa esquecida América Latina. Hoje sei que fui um desses arrogantes e o que me salva é ser um incompetente na área de destruição alheia, apesar da eficácia nos processos de auto-sabotagem, mas que não salva as cidades da competência alheia e aqui estou para dar minha pequena contribuição aos Arquitetos, na questão urbana e na busca de uma beleza que gere alegria; aos JORnalistas na defesa da imprensa das empresas; aos economistas de empenho social combatento o monopólio e seus espoliadores; aos engenheiros que gostam de poesia e aos poeta que estão construindo o nosso mundo de amanhã. Também tem os políticos, mas esses costumam ser péssimos poetas. Todos que estão de coração aberto e que miram o futuro cabem nesse bonde rumo a Estação Futuro.